A transição para a parentalidade pode ser concetualizada como uma fase de desenvolvimento, constituída por diversas tarefas, entre as quais se inserem a (re)definição da identidade e a (re) definição de papéis e valores. Significa isto que uma das tarefas com as quais pais e mães terão que se confrontar é a de encontrar o seu lugar no mundo (familiar, social e profissional).

O regresso ao trabalho após licença de parentalidade constitui-se como uma desafiante tarefa desenvolvimental que os “recém-pais” enfrentam, pelo que, deverá merecer atenção, nomeadamente através da sua preparação, ainda durante a gravidez. Se, na maioria dos casos, existe preparação para o parto, contemplada no sistema nacional de saúde, não é, ainda, prática comum, a preparação do pós-parto, no qual, poderemos incluir, o planeamento e organização do regresso ao trabalho após o período de licença parental, com especial enfoque para as licenças com maior duração.

Além dos fatores individuais, como características de personalidade, doença física e/ou mental na gravidez, existência de parto traumático, depressão pós-parto, existência de figuras de apoio que possam auxiliar a transição, situação familiar, satisfação prévia com o trabalho, entre outros, podemos encontrar desafios que são comuns a esta transição: gestão do cansaço, que pode ser provocado pela privação de sono; dificuldades relacionadas com as condições para a amamentação ou utilização de bombas de retirada de leite no local de trabalho; dificuldades relacionadas com a adaptação da criança à creche, jardim de infância, ama ou outros cuidadores; dificuldade na gestão de horário e na limitação do número de horas de trabalho; medo de perder competências técnicas e sentimento de culpa por deixar o bebé para ir trabalhar.

Acresce a todos estes desafios, a (falta de) compreensão da entidade patronal, que poderá assumir-se como um facilitador ou dificultar, ainda mais, o regresso ao trabalho após o nascimento de um filho.

A evidência nesta área, que se caracteriza por ser parca, tem estudado, sobretudo, o regresso das mães ao trabalho, e mostra que os empregadores que desejam reter colaboradores e maximizar a produtividade, a longo prazo, poderiam ter benefícios se considerarem oferecer um conjunto de medidas de apoio nesta fase do ciclo de vida dos colaboradores, como, por exemplo, encaminhamentos para exames periódicos de saúde mental, flexibilidade adicional nos horários de trabalho, para priorizar e articular consultas de saúde, e opções para flexibilizar o horário ou reentrar em horários reduzidos, especialmente nos primeiros meses de reinserção no trabalho.

Com as exigências crescentes da sociedade em que vivemos, é, cada vez mais importante, que as entidades patronais assumam um papel ativo na promoção da saúde mental dos seus colaboradores. Esta sensibilidade é, particularmente, importante em momentos de transição, como é o caso, da gravidez e regresso ao trabalho. Estas fases, que poderão ser encaradas como um fator de stress e crise, mas, também, como uma oportunidade de desenvolvimento, são influenciadas, não só por características individuais e do casal, mas também pelo contexto político, social e económico em que o casal se insere, pelas leis que regem a parentalidade e pela cultura do seu local de trabalho.

Em suma, as entidades patronais poderão ter um importante papel na facilitação do regresso ao mercado de trabalho dos pais, após a sua licença parental. O planeamento do regresso ao trabalho depois do nascimento de um filho, o acompanhamento e apoio durante o processo de transição para a parentalidade dos colaboradores, são exemplos de práticas que poderão ser incluídas, enquanto serviço diferenciador das empresas, que se preocupam com o bem-estar dos seus colaboradores e que poderão, como consequência, ter ganhos ao nível da produtividade, envolvimento e satisfação laboral, a longo prazo.

Referências Bibliográficas:

Albuquerque, M. & Guedes, G. (2021). O lado emocional da maternidade. Manuscrito.

Canavarro, M. C. (2001). Gravidez e Maternidade — Representações e tarefas de desenvolvimento. In M. C. Canavarro (Org.), Psicologia da gravidez e da maternidade (pp.17–49). Coimbra: Quarteto.

Gumy, J. M., Plagnol, A. C., & Piasna, A. (2022). Job Satisfaction and Women’s Timing of Return to Work after Childbirth in the UK. Work and Occupations, 49(3), 345–375. https://doi.org/10.1177/07308884221087988

Piasna A. and Plagnol A.C. (2017) Women’s job quality across family life stages: an analysis of female employees across 27 European countries. Social Indicators Research, https://doi.org/10.1007/s11205–017–1743–9

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