Vivemos tempos em que o ritmo da vida muitas vezes ultrapassa o ritmo da alma. Somos ensinados a fazer, a produzir, a mostrar resiliência, mas raramente nos ensinam a pausar. A ouvir o que sentimos. A dar nome ao que nos inquieta. É por isso que começar psicoterapia pode parecer tão difícil.
Não porque não queremos ajuda. Mas porque fomos habituados a acreditar que “não é assim tão grave”, que “há quem esteja pior”, ou que “isso passa com o tempo”. A verdade? Nem sempre passa. E não precisa de estar insuportável para merecer cuidado.
A psicoterapia é esse espaço de travagem consciente. Um lugar onde, com segurança e empatia, nos autorizamos a olhar para dentro, não para nos julgarmos, mas para nos compreendermos. E, com o tempo, para reconstruirmos partes que achávamos perdidas.
Mas porque é tão difícil dar esse primeiro passo?
Porque exige vulnerabilidade. Porque, ao contrário de uma dor física, a dor emocional não tem exames fáceis que a provem. Porque vivemos numa cultura que ainda valoriza mais o desempenho do que o equilíbrio. E, acima de tudo, porque mexer no que está “guardado” pode ser desconfortável no início.
Contudo, os benefícios falam por si. Pessoas que fazem psicoterapia reportam melhor autorregulação emocional, maior clareza nas decisões, melhoria nas relações interpessoais e até menos sintomas físicos (porque o corpo, muitas vezes, fala aquilo que a mente cala).
E é aqui que vale lembrar: não é preciso estar “mal” para começar.
A psicoterapia não serve apenas para apagar fogos. Ela também previne incêndios. É uma ferramenta de crescimento pessoal, de desenvolvimento emocional, de maior consciência de si e do outro.
E o papel das empresas?
Cada vez mais, o mundo do trabalho é atravessado por questões emocionais. Pressão, sobrecarga, falta de reconhecimento, desequilíbrio entre vida pessoal e profissional - são fontes constantes de stress. O burnout, por exemplo, é já considerado um fenómeno ocupacional pela OMS.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, 12 mil milhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido a problemas de saúde mental. Só na Europa, os custos associados ao sofrimento psicológico ultrapassam os 600 mil milhões de euros por ano, entre perdas de produtividade, absentismo e cuidados de saúde.
Mas há boas notícias. Um estudo da Deloitte de 2022 concluiu que por cada 1 euro investido em programas de saúde mental, há um retorno médio de 5 euros. A lógica é simples: colaboradores que se sentem bem produzem mais. Pessoas equilibradas relacionam-se melhor, criam melhor, decidem melhor.
Por isso, oferecer acesso a consultas de psicologia como perk não é um luxo. É um investimento humano e financeiro. É um passo que mostra que a empresa reconhece que não somos apenas braços ou cérebros. E que pessoas com saúde emocional constroem empresas com futuro.
Florescer também é decisão
No fundo, a psicoterapia é uma jornada que começa quando ousamos perguntar: E se eu me cuidar como mereço?
Talvez não haja respostas imediatas. Mas há escuta. Há espaço. Há presença. E há um caminho que, ainda que desafiante, vai devolvendo cor onde antes havia só cansaço.
Porque onde arde… também pode florescer.