
Quando ouço esta frase, lembro-me e comparo, automaticamente, ao desejo de todos os jovens adultos de sair de casa aos 18 anos. É algo que nós idealizamos, que queremos que aconteça. Sair de casa dos pais, ter a nossa própria habitação, sermos independentes e livres dos olhares dos nossos cuidadores... Mas quando fazemos os míticos 18 anos, o que acontece? Nada muda, salvo algumas exceções, como é obvio...
Sinto que nos meses de dezembro, o número de diagnósticos de “Síndrome de Ano Novo” aumenta. É no final do ano que nós fazemos uma análise sobre todas as nossas conquistas, falhas e arrependimentos. Análise esta que, além de severa e cruel, vem carregada de culpa e de expetativas frustradas por tudo aquilo que não conseguimos alcançar.
Mas... depois colocamos a bola para a frente até porque vai começar um novo ano e “aí é que vai ser”. Depositamos toda a nossa confiança em janeiro, no ano que se avizinha e na ilusão da mudança instantânea.
“No próximo ano quero...”
“No próximo ano vou...”
Quantos de nós já dissemos isto? E quantas vezes demos por nós a adiar estes novos planos ou a adiar pôr em prática todas as mudanças anteriormente planeadas? Quantas vezes, de tanto adiarmos, o ano mudou, mas tudo continuou igual?
(Eu acredito que, por todas as promessas incumpridas que acontecem na virada do ano, se o “Ano Novo” fosse uma pessoa, estaria, sarcasticamente, a rir-se de nós sempre que professamos frases deste género nos meses de dezembro e janeiro.)
Em Portugal, cerca de 74% das pessoas comprometem-se com as resoluções de Ano Novo, mas apenas 12 a 55% consegue atingir, sendo uma taxa de sucesso baixa.
A verdade é que é fácil associar um novo ano, a novos inícios e a mudança. E porquê? Porque o novo ano vem carregado de novas oportunidades, de motivação e de esperança para sermos melhores e cumprirmos tudo aquilo a que nos propusemos, seja nos anos anteriores, seja no ano presente. Esta ideia de mudança ou de nascer de novo, apesar de algumas vezes ser ilusória, sabe-nos bem.
Mas... Se estamos tão entusiasmados, porque é que há tantos planos e promessas que caem por terra logo em fevereiro? Ou alguns nem chegam a começar?
Primeiro porque a mudança de ano não é, nem nunca será, magicamente capaz de mudar tudo e de realizar todos os nossos desejos apenas com a mudança de dígitos. É importante planear a mudança: definir metas claras, prazos e pequenos passos. Lembrem-se que os objetivos devem ser específicos, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e com um prazo definido (se quiserem saber mais sobre isto, podem pesquisar por “objetivos SMART”).
Segundo porque muitas vezes compromete-nos com metas muito difíceis de alcançar ou então muito vagas, como “perder 20 kilos em 2 meses” ou “ser uma pessoa nova”. E são, na maioria das vezes, estas metas inatingíveis que geram frustração e abandono, surgindo a ideia de falha, culpa e a crença de que “nunca faço nada bem!”, “mais um objetivo que não consegui atingir” e “que fracasso”...
Terceiro porque, na maioria das vezes, quando há um pequeno deslize ou falha, estamos preparadíssimos para a autocrítica, levando-nos a desistir.
Mas o que posso fazer para ter mais sucesso?
- Começar pequeno: Por exemplo, o objetivo de “mudar de vida” talvez seja um objetivo demasiado exigente. Temos de ser capazes de perceber o que queremos mudar e selecionar uma mudança de cada vez. Dividir os objetivos, em metas mais simples, específicas e mensuráveis é algo muito útil para os alcançar. Lembre-se ninguém consegue correr uma maratona sem preparação...
- Congruente com os meus valores: É importante que o objetivo que queremos alcançar esteja alinhado com quem somos, com os novos valores e ideias, aumentando assim a probabilidade de a motivação se manter ao longo do tempo.
- Planear: Temos um objetivo e temos de delinear um plano para o atingir. Por exemplo: “quero perder peso”, o que tenho de fazer para atingir esta meta? Ir para o ginásio e ser acompanhado em nutrição. Se for para ir ao ginásio, quando é que posso ir? Qual será o horário mais ajustado para mim? Qual o ginásio que posso escolher?
- Ser flexível e realista: Por vezes, teremos de ajustar os nossos objetivos. A vida é imprevisível e nós não controlamos tudo. Ajustar não é fracassar, é estratégia.
- Autocompaixão: Por fim, mas não menos importante, temos de nos perdoar e compreender se não conseguirmos atingir tudo aquilo a que nos propusemos. Temos de perceber e balancear o que correu bem e mal e o que podemos fazer de seguida para dar continuidade aos nossos objetivos.
Acima de tudo, é importante perceber que as falhas poderão sempre acontecer. Aliás, é normal falharmos. O mais importante é perceber como é que me posso adaptar e o que posso fazer para continuar a tentar atingir o meu objetivo.
Lembre-se que o ano é novo, mas nós não precisamos de uma data para pormos em prática os nossos objetivos e expetativas.
Todos os dias são bons, se nos tivermos preparados para falhar, mas não para desistir.